sábado, 12 de junho de 2010

Seminário - O Culto do Evangelho no Lar

Amigos(as), bom dia.

No próximo domingo, 13/06/2010, das 8:30 às 12:30 h., acontecerá no salão da Fraternidade Espírita Irmão Glacus, o seminário: "O Culto do Evangelho no Lar". É uma grande oportunidade para conhecermos esta prática ou então reciclarmos nossos conhecimentos. O Culto no Lar é importantíssimo para todos nós.

O endereço da FEIG é rua Henrique Gorceix, nº 30, bairro Padre Eustáquio, próximo à Via Expressa.

Selecionamos um trecho do livro "Os Mensageiros", de André Luiz, psicografado pelo Chico, onde o benfeitor espiritual nos mostra os bastidores e a importância de tal prática evangélica.


"Quem cultiva o Evangelho em casa, faz da própria casa um templo do Cristo". (André Luiz)



35
Culto doméstico


Nas primeiras horas da noite, Dona Isabel aban­donou a agulha e convidou os filhinhos para o culto doméstico.
Notando o interesse que me despertavam as crianças, Aniceto explicou:
— As meninas são entidades amigas de "Nosso Lar", que vieram para serviço espiritual e resgate necessário, na Terra. O mesmo, porém, não acon­tece ao pequeno, que procede de região inferior.
De fato, eu identificava perfeitamente a situa­ção, O rapazola não se revestia de substância luminosa e atendia ao convite materno, não como quem se alegra, mas como quem obedece.
Com tamanha naturalidade se sentaram todos em torno da mesa, que compreendi a antigüidade daquele abençoado costume familiar. A filha mais velha, que atendia por Joaninha, trazia cadernos de anotações e recortes de jornais.
A viúva sentou-se à cabeceira e, após meditar breves instantes, recomendou à pequena Neli, de nove anos, fizesse a oração inicial do culto, pedin­do a Jesus o esclarecimento espiritual.
Todos os trabalhadores invisíveis sentaram-se, respeitosos. Isidoro e alguns companheiros mais íntimos do casal permaneceram ao lado de Dona Isabel, sendo quase todos vistos e ouvidos por ela.
Tão logo começou aquele serviço espiritual da família, as luzes ambientes se tornaram muito mais intensas.
Profunda sensação de paz envolvia-me o coração.

A pequena Neli, em voz comovente, fêz a prece:
— Senhor, seja feita a vossa vontade, assim na Terra como nos Céus. Se está em vosso santo desígnio que recebamos mais luz, permiti, Senhor, tenhamos bastante compreensão no trabalho evan­gélico! Dai-nos o pão da alma, a água da vida eter­na! Sede em nossos corações, agora e sempre. Assim seja!...
Dona Isabel pediu à filha mais velha lesse uma página instrutiva e consoladora e, em seguida, algum fato interessante do noticiário comum, ao que Joaninha atendeu, lendo pequeno capitulo de um livro doutrinário sobre a irreflexão, e um epi­sódio triste de jornal leigo. A primogênita de Isi­doro, que revelava muita doçura e afabilidade, pa­recia impressionada. Tratava-se de uma jovem de bairro distante, vitima de suicídio doloroso. O re­pórter gravara a cena com característicos muito fortes. A leitora estava trêmula, sensibilizada.
Assim que Joaninha terminou, Dona Isabel abriu o Novo Testamento, como se estivesse proce­dendo ao acaso, mas, em verdade, eu via que Isido­ro, do nosso plano, intervinha na operação, aju­dando a focalizar o assunto da noite. A seguir, fixou o olhar na página pequenina e falou:
— A mensagem-versículo de hoje, meus filhos, está no capítulo 13 do Evangelho de São Mateus.
E lendo o versículo 31, fê-lo em voz alta:
— "Outra parábola lhes propôs, dizendo: — O Reino dos Céus é semelhante ao grão de mostarda que o homem tomou e semeou no seu campo."
Observei, então, um fenômeno curioso. Um ami­go espiritual, que reconheci de nobilíssima condição, pelas vestes resplandecentes, colocou a destra so­bre a fronte da generosa viúva.
Antes que lhe perguntasse, Aniceto explicou em voz quase imperceptível:
— Aquele é o nosso irmão Fábio Aleto, que vai dar a interpretação espiritual do texto lido. Os que estiverem nas mesmas condições dele, po­derão ouvir-lhe os pensamentos; mas, os que esti­verem em zona mental inferior, receberão os valores interpretativos, como acontece entre os encarnados, isto é, teremos a luz espiritual do verbo de Fábio na tradução do verbo materializado de Isabel.
Nosso mentor não poderia ser mais explícito. Em poucas palavras fornecera-me a súmula da extensa lição.
Notei que a viúva de Isidoro entrara em pro­funda concentração por alguns momentos, como se estivesse absorvendo a luz que a rodeava. Em se­guida, revelando extraordinária firmeza no olhar, iniciou o comentário:
        - "Lemos hoje, meus filhos, uma página sobre a irreflexão e a notícia de um suicídio em tristís­simas circunstâncias. Afirma o jornal que a jovem suicida se matou por excessivo amor; entretanto, pelo que vimos aprendendo, estamos certos de que ninguém comete erros por amar verdadeiramente. Os que amam, de fato, são cultivadores da vida e nunca espalham a morte. A pobrezinha estava doente, perturbada, irrefletida. Entregou-se à pai­xão que confunde o raciocínio e rebaixa o senti­mento. E nós sabemos que, da paixão ao sofrimen­to, ou à morte, não é longa a distância. Lembremos, todavia, essa amiga desconhecida, com um pensa­mento de simpatia fraternal. Que Jesus a proteja nos caminhos novos. Não estamos examinando um ato, que ao Senhor compete julgar, mas um fato, de cuja expressão devemos extrair o ensinamento justo.
        A mensagem evangélica desta noite assevera, pela palavra do nosso Divino Mestre aos discípulos, que o reino dos céus é também "semelhante ao grão de mostarda que o homem tomou e semeou no seu coração". Devemos ver, neste passo, meus filhos, a lição das coisas mínimas. A esfera carnal onde vivemos está repleta de irreflexões de toda sorte. Raras criaturas começam a refletir seriamente na vida e nos deveres, antes do leito da morte física. Não devemos fixar o pensamento tão só nessa jovem que se suicidou em condições tão dramáticas, ao nos referirmos aos ensinos de agora. Há homens e mulheres, com maiores responsabili­dades, em todos os bairros, que evidenciam paixões nefastas e destruidoras no campo dos sentimentos, dos negócios, das relações sociais. As mentes dese­quilibradas pela irreflexão permanecem, neste mun­do, quase por toda a parte. É que nos temos des­cuidado das coisas pequeninas. Grande é o oceano, minúscula é a gota, mas o oceano não é senão a massa das gotas reunidas. Fala-nos o Mestre, em divino simbolismo, da semente de mostarda. Recor­demos que o campo do nosso coração está cheio de ervas espinhosas, demorando, talvez, há muitos sé­culos, em terrível esterilidade. Naturalmente, não deveremos esperar colheitas milagrosas. É indis­pensável amanhar a terra e cuidar do plantio. A semente de mostarda, a que se refere Jesus, cons­titui o gesto, a palavra, o pensamento da criatura.
       Há muitas pessoas que falam bastante em humil­dade, mas nunca revelam um gesto de obediência. Jamais realizaremos a bondade, sem começarmos a ser bons. Alguma coisa pequenina há de ser feita, antes de edificarmos as grandes coisas, O Senhor ensinou, muitas vezes, que o reino dos céus está dentro de nós. Ora, é portanto em nós mesmos que devemos desenvolver o trabalho máximo de reali­zação divina, sem o que não passaremos de grandes irrefletidos. A floresta também começou de semen­tes minúsculas. E nós, espiritualmente falando, temos vivido em densa floresta de males, criados por nós mesmos, em razão da invigilância na es­colha de sementes espirituais. A palestra de uma hora, o pensamento de um dia, o gesto de um momento, podem representar muito em nossas vidas. Tenhamos cuidado com as coisas pequeninas e sele­cionemos os grãos de mostarda do reino dos céus. Lembremos que Jesus nada ensinou em vão. Toda vez que "pegarmos" desses grãos, consoante a Palavra Divina, semeando-os no campo íntimo, re­ceberemos do Senhor todo o auxilio necessário. Conceder-nos-á a chuva das bênçãos, o sol do amor eterno, a vitalidade sublime da esfera supe­rior. Nossa semeadura crescerá e, em breve tempo, atingiremos elevadas edificações. Aprendamos, meus filhos, a ciência de começar, lembrando a bondade de Jesus a cada instante. O Mestre não nos desam­para, segue-nos amorosamente, inspira-nos o cora­ção. Tenhamos, sobretudo, confiança e alegria!"
Reparei que Fábio retirou a mão da fronte da viúva e observei que ela entrava a meditar, como quem sentira o afastamento da ideia em curso.
Havia grande comoção na assembleia invisível às crianças que, por sua vez, também pareciam impressionadas.
Dona Isabel voltou a contemplar maternalmente os filhos, e falou:
—        Procuremos, agora, conversar um pouco.

36
Mãe e filhos


No comentário evangélico, eu recolhia observa­ções interessantes. Tal como no caso de Ismália, quando lhe ouvíamos a sublime melodia, a inter­pretação de Fábio estava cheia de maravilhas espi­rituais que transcendiam à capacidade receptiva de Dona Isabel. A viúva de Isidoro parecia deter tão somente uma parte.
Desse modo, as crianças recebiam a lição de acordo com as possibilidades mediúnicas da palavra materna, enquanto que a nós outros se propiciava o ensinamento com maravilhoso conteúdo de beleza.
Sempre solícito, o instrutor esclareceu:
— Não se admirem do fenômeno! cada qual receberá a luz espiritual conforme a própria capa­cidade. Há muitos companheiros nossos, aqui reu­nidos, que registram o comentário de Fábio com mais dificuldade que as próprias crianças. Experi­mentam, ainda, grandes limitações.
Havia grande respeito em todos os desencar­nados presentes.
Fábio Aleto sentou-se em plano superior, ao passo que Isidoro se acomodava junto da esposa, no impulso afetivo do pai que se aproxima, solí­cito, para a conversação carinhosa com os filhos bem-amados.
Nesse instante, a pequenina Marieta, que pa­recia haver atingido os sete anos, aproveitando o momento de palavra livre, perguntou à mâezinha, em tom comovedor:
—        Mamãe, se Jesus é tão bom, porque esta­mos comendo só uma vez por dia, aqui em casa? Na casa de Dona Fausta, eles fazem duas refeições, almoçam e jantam. Neli me contou que no tempo de papai também fazíamos assim, mas agora... Porque será?
A viúva esboçou um sorriso algo triste e falou:
—        Ora, Marieta, você vive muito impressio­nada com essa questão. Não devemos, filhinha, su­bordinar todos os pensamentos às necessidades do estômago. Há quanto tempo estamos tomando nos­sa refeição diária e gozando boa saúde? Quanto benefício estaremos colhendo com esta frugalidade de alimentação?
Joaninha interveio, acrescentando:
—        Mamãe tem toda a razão. Tenho visto muita gente adoecer por abuso da mesa.
—        Além disso — acentuou Dona Isabel, con­fortada —, vocês devem estar certos de que Jesus abençoa o pão e a água de todas as criaturas que sabem agradecer as dádivas divinas. É verdade que Isidoro partiu antes de nós, mas nunca nos faltou o necessário. Temos nossa casinha, nossa união espiritual, nossos bons amigos. Convençam-se de que o papai está trabalhando ainda por nós.
Nessa altura da palestra, dada a nossa como­ção, Isidoro enxugou os olhos úmidos.
Noemi, a caçula pequenina, falou em voz in­fantil:
—        É mesmo, é verdade! eu vi papai ajudando a segurar o bolo que Dona Cora nos trouxe domingo.
—        Também vi, Noemi — disse Dona Isabel, de olhos vivamente brilhantes —, papai continua auxiliando-nos.
E voltando-se para todos, acentuou:
— Quando sabemos amar e esperar, meus fi­lhos, não nos separamos dos entes queridos que morrem para a vida física. Tenhamos certeza na proteção de Jesus!...
Marieta, parecendo agora absolutamente tran­qüila, assentiu:
—        Quando a senhora fala, mamãe, eu sinto que tudo é verdade! Como Jesus é bom! E se nós não tivéssemos a senhora? Tenho visto os pequenos mendigos abandonados. Talvez não comam coisa alguma, talvez não tenham amigos como os nossos! Ah! como devemos ser agradecidos ao Céu!...
A viúva, que se confortava visivelmente, ou­vindo aquelas palavras, exclamou com profunda emoção:
—        Muito bem, minha filha! Nunca deveremos reclamar e sim louvar sempre. E possivelmente não saberia você compreender a situação, se esti­véssemos em mesas lautas.
Observei, porém, que o menino não comparti­lhava aquele dilúvio de bênçãos. Entre Dona Isabel e as quatro filhinhas havia permuta constante de vibrações luminosas, como se estivessem identifi­cadas no mesmo ideal e unidas numa só posição; mas o rapazote permanecia espiritualmente distan­te, fechado num círculo de sombras. De quando em quando, sorria irônico, insensível à significação do momento. Valendo-se da pausa mais longa, ele perguntou à genitora, menos respeitosamente:
—        Mamãe, que entende a senhora por po­breza?
Dona Isabel respondeu, muito serena:
— Creio, meu filho, que a pobreza é uma das melhores oportunidades de elevação, ao nosso al­cance. Estou convencida de que os homens afor­tunados têm uma grande tarefa a cumprir, na Terra, mas admito que os pobres, além da missão que lhes cabe no mundo, são mais livres e mais felizes. Na pobreza, é mais fácil encontrar a ami­zade sincera, a visão da assistência de Deus, oS tesouros da natureza, a riqueza das alegrias sim­ples e puras. É claro que não me refiro aos ociosos e ingratos dos caminhos terrenos. Refi­ro-me aos pobres que trabalham e guardam a fé. O homem de grandes possibilidades financeiras muito dificilmente saberá discernir entre a afeição e o interesse mesquinho; crente de que tudo pode, nem sempre consegue entender a divina proteção; pelo conforto viciado a que se entrega, as mais das vezes se afasta das bênçãos da Natureza; e em vista de muito satisfazer aos próprios caprichos, restringe a capacidade de alegrar-se e confiar no mundo.
Apesar da beleza profunda daquela opinião, o rapazola permaneceu impassível, respondendo algo contrariado:
—        Infelizmente, não posso concordar com a senhora. Até os garotos do jardim de infância pensam de modo contrário.
Dona Isabel mudou a expressão fisionômica, assumiu a atitude de quem instrui com a noção de responsabilidade, e acentuou:
—        Não estamos aqui num jardim de infância, meu filho. Estamos no jardim do lar, competindo-nos saber que as flores são sempre belas, mas que a vida não pode prosseguir sem a bênção dos frutos. Por onde andarmos no mundo, receberemos muitos alvitres da mentira venenosa. É preciso vigiar o coração, Joãozinho, valorizando as bênçãos que Jesus nos envia.
O        rapazinho, entretanto, demonstrando enorme rebeldia Intima, tornou:
—        A senhora não considera razoável alugar este salão a fim de termos algum dinheiro a mais? Estive conversando, ontem, com o "seu" Maciel, quando vim da escola. Ele nos pagaria bem, para ter aqui um depósito de móveis.
Dona Isabel, de ânimo decidido, respondeu com energia, sem irritação:
— Você deve saber, meu filho, que enquanto respeitarmos a memória de seu pai, este salão será consagrado às nossas atividades evangélicas. Já lhes contei a história do nosso culto doméstico e não desejo que vocês sejam cegos às bênçãos do Cristo. Mais tarde, Joãozinho, quando você entrar diretamente na luta material, se for agradável ao seu temperamento, construa casas para alugar; mas agora, meu filho, é indispensável que você considere este recanto como algo de sagrado para sua mamãe.
—        E se eu insistir? — perguntou, mal humo­rado, o pequeno orgulhoso.
A viúva, muito calma, esclareceu firme:
—        Se você insistir, será punido, porque eu não sou mãe para criar ilusões perigosas ao coração dos filhinhos que Deus me confiou. Se muito amo a vocês, precisarei incliná-los ao caminho reto.
O        pequeno quis retrucar, mas a luz emitida pelo tórax de Dona Isabel, ao que me pareceu, con­fundiu-lhe o espírito rebelde e vi-o calar-se, a con­tragosto, amuado e enraivecido. Admirei, então, profundamente, aquela bondosa mulher, que se di­rigia à filha mais velha como amiga, às filhinhas mais novas como mãe, e ao filho orgulhoso como instrutora sensata e ponderada.
Aniceto, que também se mostrava satisfeito, disse-nos em tom significativo:
—        O Evangelho dá equilíbrio ao coração -
A pequena Neli, amedrontada, pediu, humilde:
—        Mamãe, não deixe Joãozinho alugar a sala!
A viúva sorriu, acariciou o rostinho da filha e asseverou:
—        Joãozinho não fará isso, saberá compreen­der a mamãe. Não falemos mais neste assunto, Neli -
E fixando o relógio, dirigiu-se à primogênita:
—        Joaninha, minha filha, ore agradecendo, em nosso nome. Nosso horário está findo.
A jovem, com expressão nobre e carinhosa, agradeceu ao Senhor, tocando-nos os corações.

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